1 maio, 2015

Meu filho faz design

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por Máucio

Todos que vivem em torno da atividade de design, profissionais, professores e estudantes sofrem com um problema, a falta de entendimento da profissão.
E tanto faz falar em Desenhista Industrial ou em designer que a confusão é a mesma. O mais comum é serem confundido com publicitários ou com artistas plásticos.
Quando se usa o termo Desenhista Industrial o rótulo mais frequente é de que são
pessoas que desenham parafusos. E não adianta tentar explicar. Por outro lado, o nome design – adotado por alguns cursos – também não ajuda em nada. Hoje em dia tem design de tudo: design de cabelo, design de cachorro, design de bolo de aniversário e até design de púbis. Nas últimas décadas houve uma apropriação popular ampla do termo. Provavelmente porque as pessoas acham bonitinho o vocábulo anglo-saxão. Com isso o conceito profissional/acadêmico purista foi pras ‘cucuias’.
A incompreensão do que faz um designer não escolhe idade, sexo, nem classe social.
Pai, mãe, irmãos, tios, vizinhos, ninguém entende direito o que mesmo os estudantes estão fazendo nessa faculdade.
Com André a coisa não foi diferente.
No início foi difícil convencer o pai, produtor rural, que largar o curso de Agronomia para fazer Desenho Industrial era uma boa decisão. Constituiu-se numa verdadeira via sacra. Todos os fins de semana o filho tratava de ir para a fazenda, com o objetivo de amenizar o sofrimento do seu José e tentar lhe convencer que a profissão de design realmente existia e tinha futuro.
Entrava no assunto aos pouquinhos para não assustar. Num dia falava em desenhos, rascunhos, projetos, cores. No outro, comentava sobre objetos tridimensionais e até mesmo aos protótipos chegou a se referir. Era uma liturgia em etapas. Seu José parecia ouvi-lo atentamente, mas não falava absolutamente nada, o que deixava André muito angustiado.
André passou duas semanas sem ir à fazenda devido às provas da faculdade, mas aquele domingo de Páscoa não tinha como deixar de ir. Chegou sexta-feira no final da tarde. Estavam todos proseando debaixo das árvores, perto do galpão.
André puxou um cepo e já lhe alcançaram um mate.
A conversa corria solta, adultos rodeados por crianças, cachorros e galinhas ciscando por perto. Dali a pouco seu José pergunta-lhe como estava a faculdade. André ficou surpreso com o interesse, mas de pronto, deu trela ao pai.
– Tá buenacha, essa semana tive muitos projetos pra entregar. É bem puxada a coisa. Seu José espera o filho terminar a frase e completa: amanhã cedo quero te mostrar lá embaixo, o novo leiaute do potreiro que o pai fez. Tá bunitaço! André não sabia
se sorria ou caia na risada, mas comeu quieto, entendendo que a ladainha daqueles fins de semana havia dado resultado.
No dia seguinte, depois de verem as reformas do potreiro, só restara mesmo planejarem o design do churrasco para comemorar o domingo de Páscoa. Foi um sábado de aleluia!